quarta-feira, 7 de agosto de 2013 -
quando menino e pássaro se confundem

passarinho daqueles que
ninguém quer pra sua gaiola
parou na minha fruteira
e cantou

menino daqueles que
ninguém quer pra si
parou na minha frente
e cantou-me

um deles adocicou seu bico
nas minhas frutas e
voou

o outro adocicou sua boca
no meu bico
e ficou

a bicar-me do lado de dentro da gaiola.

terça-feira, 4 de agosto de 2009 -
fecharam as janelas e logo se fez um calor imenso. os vidros tornaram-se embaçados, era dia de chuva.
e do lado de dentro, no meio de todo aquele “embaçamento” surgiu aqui (bem aqui dentro de mim) um desconforto chato, agonizante até. era chuva, eu sei. era chuva mas eu queria ver o que estava lá fora, queria ver o todo e não só aquela imagem turva que se formava por conta das gotas e do vapor que se agarravam aos vidros. se eles ao menos se dessem ao trabalho de largar e me deixar ver aquele mar lindo que estava ali do lado de fora pedindo pra ser contemplado mesmo no dia cinza eu juro que teria evitado abrir a janela. não largaram. estavam agarrados de um jeito tão forte que

(eu nunca vi ninguém se agarrando assim na vida)

pois então abri um pedacinho assim. da janela, digo. foi mesmo um pedaço pequeno porque queria evitar os muxoxos de quem estava atrás caso a água do céu resolvesse molhar-lhe a testa ou os cabelos. ah, os cabelos.

abri a janela e abri também meu horizonte. estava cinza, cinza de um jeito que era difícil ver aquele navio grande que estava lá em alto mar sem fazer esforço.

na verdade eu sempre achei que seria difícil abandonar essa cidade esse calor e essa tropicalidade toda por conta do céu azul que se apresenta do lado de fora das janelas todas as manhãs. não tenho muita certeza, mas acho que estava mesmo era enganada, pois aquele dia o céu azul se escondeu por detrás de um cinza sem sal nem açúcar, mas do lado de lá de dentro do ônibus ele era a única coisa que eu queria alcançar com a vista.

e alcancei.



(aquela janela recém-aberta e aquele cinza alegraram meu dia)

segunda-feira, 3 de agosto de 2009 -


mesmo sabendo que tudo acaba preferiu pensar o contrário




terça-feira, 12 de maio de 2009 -
Levantou-se e caminhou em direção a janela. Ficou ali encostada olhando para as janelinhas outras dos prédios que a vista conseguia alcançar e sentiu uma vontade imensa de adivinhar o interior de todos aqueles lares doces lares.
De repente como se soprassem em seu ouvido algo que a fizesse despertar, tirou os olhos do que não dizia respeito a si e olhou para cima e viu e deu-se conta de que:

O céu.

O céu e aquela nuvem cinza.

Sorriu sem mexer os lábios.
- Sou eu, pensou.
Reconhecera-se na nuvem tesa e tensa de todo um dia cinza. Uma nuvem que como ela parecia estar se sustentando naquele estado há quanto-tempo-eu-não-sei e que por isso poderia derramar-se em lágrimas a qualquer minuto, segundo ou instante da noite fresca. Mas como podia? Como podia encontrar-se alguém em uma nuvem?
E era tão intensa a semelhança que pensando ali com os seus botões mal costurados ela concluiu que de fato aquela foi a primeira vez que sentiu que não era sozinha, não era a única só e socó menina incompreendida no mundo. Compartilhava verdadeiramente os mesmos sentimentos com um outro ser. Era um ser, não era?

A nuvem.

Retirou-se da janela ao ouvir o apito da chaleira que gritava avisando que a água para o chá já estava quente quente prontinha para aquecer o que precisasse ser aquecido ali e os olhos já fora da nuvem-espelho fecharam-se e abriram-se num piscar rápido, porém molhado. Gotas salgadas escorriam pelo rosto jovem da menina não mais só e socó e sem pedir licença ensopavam todo o resto que se seguia: pescoço, ombros, roupa. E a nuvem antes tesa e tensa como a menina mudara de cor, tornando real uma mudança no tempo que há muito se anunciava.

Choveu.

terça-feira, 5 de maio de 2009 -
contou nos dedos quantas pessoas querem-hoje-agora aquela menina. aquela menina que é sua. contou nos dedos e a conta fez encher quase as duas mãos inteiras.
parou, pensou em si e quantas pessoas-querem-hoje-agora a minha pessoa? quantas pessoas me querem? sentiu-se.

sentiu-se assim meio alguma coisa, afinal não enchera quase as duas mãos. não enchera nem uma das suas mãozinhas tão pequenas. a verdade é que não levantara um único dedo, um dedinho sequer. queria ser querida por alguém, queria ser querida por aquela menina que é sua e que com tantos rostos e olhos e bocas em cima de si não tinha tempo para

queria ao menos levantar um dedo para que assim pudesse se sentir menos

e sentir-se mais
querida.

segunda-feira, 4 de maio de 2009 -
Tinha medo de envelhecer e se tornar um daqueles adultos-velhos-chatos que existem por aí. E de tanto medo que sentia às vezes tinha a sensação de que já estava se tornando um - é, um daqueles.
Vez ou outra imaginava a sua vida adulta menina-já-dona-de-si vivendo como os outros, de trabalho, de idas ao shopping, das fofocas do pessoal da firma (essas terrivelmente difíceis de se tolerar), dos amigos que se perderam e
encontraram-se no supermercado. ela e uma amiga de longas datas que havia dado um chá de sumiço, afinal casara-se. constituiu família. sentiu um aperto no coração pois o reencontro lhe fez lembrar dos tempos em que juntas (ainda amigas de verdade) soltavam milhares de palavras bobas pela boca e sentadas no chão riam-se. riam-se até chorar.
O aperto passou assim que recebeu aqueles dois beijos - um em cada bochecha bronzeada de sol - e trocaram dessa vez apenas meia dúzia e não milhares de palavras, sem desatarem a rir segundos depois.
Foi-se embora com os olhos fitando o chão já cansado de sustentar os homens e seus problemas que pareciam crescer a cada dia.
É, parece mesmo que tornara-se um daqueles, mas a culpa não era sua. Era dos outros. Tinha que ser.


sexta-feira, 27 de março de 2009 -
encostada no cais da orla olhei pro mar e me perdi.


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